Mais da metade dos alunos de Medicina é reprovada

Para quem pensa que medicina é fácil e que no Brasil os alunos estao sendo bem preparados leia a reportagem abaixo:
 
Mais da metade dos alunos de Medicina é reprovada
Pior desempenho está em clínica médica, área essencial do atendimento
Paulo Saldaña e Elida Oliveira, Especial para Estadão.edu, e Marcela Espinosa - do Jornal da Tarde
Pelo terceiro ano consecutivo, mais da metade dos estudantes do 6º e último ano de Medicina foram reprovados na prova do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). O mais grave este ano, segundo o Cremesp, é que os futuros médicos tiveram o pior desempenho numa área essencial do atendimento, a clínica médica. As questões dessa área tiveram média de acerto de apenas 48,4%. "As áreas em que eles têm de ir melhor são justamente as que apresentam mais deficiências", afirma o médico Braulio Luna Filho, coordenador do exame. Luna Filho explica que clínica médica é o campo com maior demanda de atendimento da população e que exige conhecimento gobal. De acordo com o relatório divulgado nesta terça-feira, mais de 70% dos 629 estudantes que fizeram a avaliação não conseguiram dar respostas corretas a situações comuns na prática médica, como os relacionados a atendimentos básicos a gestantes, recém-nascidos e problemas gastrointestinais. A prova é considerada pelo Cremesp de nível médio a fácil. Em 2009, quinto ano em que a avaliação é realizada, 56% dos estudantes não conseguiram acertar ao menos 60% da primeira fase (índice mínimo o estudante passar para a segunda etapa). O resultado mostra uma realidade perturbadora do ensino médico. "Mais da metade das escolas de Medicina teriam de ser fechadas porque são deficientes", afirma o presidente do conselho, Henrique Carlos Gonçalves. A competência para abrir,fiscalizar e até fechar as universidades é do Ministério da Educação (MEC). "Temos pressionado o MEC e o Congresso Nacional, que receberão esses dados. Mas existe grande interesse na abertura de escolas." O conselho defende a criação de uma lei que torne obrigatório um exame de avaliação dos médicos para que eles exerçam a profissão, a exemplo do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Falta de professores de Medicina, inadequação às diretrizes curriculares e carência de avaliações são alguns dos diagnósticos apontados pelos integrantes do conselho para o resultado da prova. Outro problema importante na formação dos médicos estaria na falta de prática - muitas instituições nem sequer têm hospitais. "A Medicina exige prática, não se aprende apenas nos livros", ressalta Gonçalves. A avaliação do Cremesp é de que a prova sofreu boicote das instituições de ensino, já que fazer o exame não é prática obrigatória. "Como poucos participam, e são os melhores, sem dúvida a realidade é muito pior", afirma Reinaldo Ayer, membro do Cremesp. O diretor da Faculdade de Medicina da USP, Marcos Boulos, acredita que, se o exame fosse universal, o resultado seria outro. Mas pondera: "Isso não esconde a realidade. Estamos formando médicos imperfeitos. É preocupante pensar que menos de 50% deles estão preparados para atender a população". Entre as 25 escolas de Medicina do Estado, que formam anualmente cerca de 2.600 médicos, apenas 14 registraram participação de mais de 15 alunos no exame. Nesse grupo, só 4 tiveram mais da metade dos participantes aprovados: Faculdade de Medicina da USP (18 participantes, de um total de 175 alunos), Faculdade da Santa Casa, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famaesp). O piores desempenhos foram da Universidade Camilo Castelo Branco (UniCastelo), de Fernandópolis, com apenas 1 aprovação entre os 34 participantes (2,9%) e da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), que teve 2 dos 43 participantes aprovados (4,7%). Na sequência, aparece a Universidade Nove de Julho (Uninove) - 7 aprovações entre 24 inscritos. "A Uninove participa das reuniões sobre o assunto no Cremesp, incentiva seus alunos a participarem do exame e apoia a iniciativa em busca da qualidade", afirmou em nota o reitor da Uninove, Eduardo Storopoli. A instituição tem 160 alunos no 6º ano, uma das maiores turmas de Medicina no Estado.
Entre as escolas com menor participação estão algumas instituições públicas, como a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, com seis estudantes; e a Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, com cinco. Nenhum dos 100 alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) participou da prova. A avaliação foi realizada entre setembro e outubro. A organização ficou a cargo da Fundação Carlos Chagas.

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